Projeto Fora do Eixo Vol. 03

PARA AMPLA DIVULGAÇÃO

Organizado por um pessoal inquieto do DF, foi lançada a Carta-convite para seleção de propostas de participação no Projeto Fora do Eixo Vol. 03, em abril de 2011, em Brasília.

A participação no Projeto Fora do Eixo Vol.3 poderá ocorrer de duas formas distintas: Semana Fora do Eixo e Salão/Residência Centro-Oeste.

As inscrições estão abertas até dia 18 de março e maiores informações clique no link abaixo:

FORA DO EIXO VOL. 03 – INSCRIÇÕES

+ infos:  projetoforadoeixo@gmail.com

Banco de portfolios para artistas

Banco de Portfolios – Blog Daniela Name

O Banco de Portfolios do blog vai ser mantido pela autora – curadora, crítica de arte e jornalista no Rio de Janeiro – para ajudar na difusão da obra de artistas de todo o país. O envio do material e sua postagem são completamente gratuitos, desde que contenham os dados pedidos mais adiante.

Críticos, artistas, curadores, galeristas e pesquisadores poderão acessar gratuitamente os portfolios, que passarão a ser listados aqui, em ordem alfabética, a partir do dia 21 de fevereiro de 2011, segunda-feira.

Os portfolios devem ser enviados para o e.mail a seguir:

banco.portfolios@gmail.com

http://daniname.wordpress.com/?tag=banco-de-portfolios

Um prêmio esquisito…

Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea

O Ministério das Relações Exteriores informa que estarão abertas, até o dia 25 de março de 2011, as inscrições para o “I Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea”.

O Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea, de periodicidade bianual, concederá prêmios nas áreas de pintura, escultura, fotografia e obras em papel. As obras selecionadas passarão a fazer parte do acervo do Ministério das Relações Exteriores, podendo ser expostas no Palácio Itamaraty e por toda a rede de Embaixadas e Consulados do Brasil no exterior.

O Concurso visa a incentivar a produção brasileira de arte contemporânea e a ampliar sua divulgação no exterior.

Poderão ser inscritas no Concurso quaisquer obras de artistas brasileiros. É vedada, no entanto, a participação no Concurso de membros da Comissão de Seleção e da Comissão Julgadora, bem como de servidores, cônjuges e parentes de primeiro grau de servidores do Ministério das Relações Exteriores.

Cada artista poderá inscrever apenas uma obra no certame. Para inscrevê-la, o interessado deverá enviar ao endereço eletrônico artecontemporanea@itamaraty.gov.br:

I.      ficha de inscrição assinada e digitalizada;
II.     curriculum vitae com texto descritivo e dez imagens (em baixa resolução) de    obras de sua autoria, produzidas nos últimos dois anos;
III.   imagem da obra inscrita, com resolução mínima de 300 dpi, em formato TIFF ou JPEG; e
IV.   declaração de autoria e propriedade da obra inscrita.

Os valores dos prêmios oferecidos para as áreas de pintura e escultura são:

a) Primeiro lugar: R$ 20.000,00 (vinte mil reais);
b) Segundo lugar: R$ 15.000,00 (quinze mil reais);
c) Terceiro lugar: R$ 10.000,00 (dez mil reais);
d) Quarto lugar: R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Os valores dos prêmios oferecidos para as áreas de fotografia e obras em papel são:

a) Primeiro lugar: R$ 10.000,00 (dez mil reais);
b) Segundo lugar: R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais);
c) Terceiro lugar: R$ 5.000,00 (cinco mil reais);
d) Quarto lugar: R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais).

O edital completo do Concurso está disponível no site www.dc.mre.gov.br – seção “Eventos e Concursos”.  Outras informações poderão ser solicitadas à Divisão de Operações de Difusão Cultural do Itamaraty -  dodc@itamaraty.gov.br.

Rio de Janeiro: cidade-espetáculo (uma curadoria on-line)

Fernando Reis Vianna

Parafraseando Daniel Lima, artista paulistano, damos título a este post em tempos de guerra urbana e febre midiática na cidade-símbolo do país do Samba, Futebol, Malandragem, Sexo e água fresca…

A chapa tava quente nas praias cariocas há tempos, e as cifras milionárias que circulam com o tráfico eram sabidas por todos. Mas décadas de omissão corrupta dos políticos locais permitiram que o problema se tornasse um monstro que se soltou agora. No meio da guerra, civis pobres sofrem na mão de falsos heróis. E por isso a sociedade precisa estar alerta, monitorando os passos do proclamado protetor sempre cercado por elementos de conduta duvidosa…

O tráfico de armas e drogas não vai acabar no Brasil nem no mundo, mas desejamos que o Rio de Janeiro deixe de ser o grande foco de violência, corrupção e comércio ilícito que se transformou.

Pensando neste momento, dedicamos o espaço a artistas baseados no Rio que comentam a problemática da cidade a seu modo.

(obs. arquivo em processo: aceitamos sugestões de artistas e imagens).

Ducha. Projeto Cristo Redentor. Intervenção não autorizada na estátua do Cristo Redentor, 2000

Herberth Sobral. Tráfico manda fechar o comércio, 2010

Leonardo Ramadinha. Série Ponto 30 (calibre de fuzil com capacidade para derrubar helicópteros).

Daniel Lannes. Bloco. Óleo sobre tela,  2009

Geraldo Marcolini. Série Celebridades (Marcio VP). Lã bordada sobre tela, 2002

Ronald Duarte. À Sangue Frio. Intervenção urbana, 2003.

Alexandre Vogler. Tridente. Intervenção urbana em Nova Iguaçu, RJ. Registros da repercussão da ação no Município carioca.

Alexandr Vogler: repercussão da intervenção Tridente em Nova Iguaçu, RJ

Repercussão na mídia da intervenção Tridente, de alexandre Vogler em Nova Iguaçu, RJ

Raul Mourão. Drama.doc, 2003

Guga Ferraz. “Em caso de assalto” intervenções com adesivos, 2007;”Zona de conflito”, mapeamento, 2005

Paula Trope. Registro e acompanhamento do Projeto Morrinho. Comunidade do Pereirão.

Cristina Ribas. Gráfico (clique para ampliar).

Outras colaborações:

Simone Michelin. Qualia, 2010  http://www.simonemichelin.com

Fernando Reis Vianna. Texto.
http://fernandoreisvianna.blogspot.com/2009/12/o-menino-nao-gente-merda-chora-no-chao.html

Ajudaram a constituir esta seleção: Amanda Bonan, Daniela Name, Ni da Costa, Leonardo Ramadinha, Simone Michelin, Fred Coelho e outros amigos do Facebook.

29a. Bienal de São Paulo – Comunicado

Recebido por e-mail em 13/10/2010:

Em resposta ao texto São Paulo Arde: o espectro da polítca na Bienal, divulgado pelo artista Roberto Jacoby em seguida à solicitação de retirada ou encobrimento de parte da obra El alma nunca piensa sin imagen, exibida na 29ª Bienal de São Paulo, os curadores-chefes da exposição vêm a público declarar o seguinte:

1. Ao contrário do que o texto afirma, em momento algum o projeto apresentado à curadoria da 29ª Bienal de São Paulo pelo Sr. Roberto Jacoby fazia referência direta à campanha presidencial no Brasil. Em todas as inúmeras comunicações feitas (por email, skype e telefone), o artista afirmou querer refletir sobre processos eleitorais a partir de uma campanha fictícia e hipotética. O conteúdo das informações fornecidas pelo artista está expresso no texto que apresenta sua obra, publicado no catálogo e no site da exposição.

2. O fato de as imagens dos candidatos Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB) estarem publicadas no catálogo e no site da 29ª Bienal de São Paulo não atesta, em absoluto, o conhecimento prévio da curadoria sobreo conteúdo do trabalho tal como apresentado no espaço expositivo. As imagens foram entregues pelo artista apenas ao final do prazo de fechamento da edição do catálogo (…)

SEGUE

Política emperrando a Bienal de Arte e Política

Enviado por email em 2010/9/25 por Cristina Ribas e publicado livremente aqui.

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Amigos

Há muitos rumores sobre o que de fato  levou a censura do projeto do artista argentino Roberto Jacoby na Bienal que inaugura hoje (24/09/2010). Eh bastante triste para mim como artista e pesquisadora testemunhar um fato como este a “esta altura do campeonato”, sobretudo porque os atores da censura se colocam em posicoes vitimizadas e despotencializadas, quando poderiam aportar o debate, defender o projeto do artista diante das tais “estruturas juridicas” apontadas e tentar constituir de fato um territorio para o enfrentamento dos ensejos curatoriais (elaborar relacoes possiveis entre arte e politica, ainda que essa articulacao precise de um trabalho arduo tanto dos conceitos como dos modos como pode ser operada).
contudo, observando desde dentro (estou em Sao Paulo ha dois dias), e levantando as pistas do que aconteceu de fato, se percebe uma acao autoritaria por parte tanto dos curadores como da equipe de producao, no sentido de barrar a livre expressao, categorizar e por fim censurar quase que na totalidade o projeto “A alma nunca pensa sem imagens”. no dia mesmo da abertura foi recolhido grande parte do material do espaco dedicado ao trabalho do artista e da Brigada Internacional Argentina, que trouxe mais de 30 pessoas para compor este “comite de campanha”, realizando um espaco dentro da Bienal para discutir formas politicas, campanhas partidarias e mesmo a relacao entre tais ambientes – o acontecimento da arte e o acontecimento de uma campanha politica.
encaminhamos abaixo uma carta que conta com um pouco mais de detalhes as informacoes ao redor do caso da censura. solicitamos que enviem emails de apoio, ou de questionamento, sigamos a conversacion. convido a todos a considerarem tambem o historico das pessoas envolvidas, dos artistas, da Brigada, das Madres de la Plaza de Mayo que vieram a abertura, e tambem olharem as imagens, a pensarem onde estao as almas, com estas imagens, e o que acontece quando as censuramos.
hoje, sabado, 24/09, 16h teremos um espaco para discutir o que aconteceu. no proprio local agora censurado dedicado ao trabalho, no terceiro andar da Bienal, mas nao menos vivo, nao menos inquietante, nao menos necessario para fazer tremer, tremular, tremblar os limites destas clausuras….
segue mais abaixo o link (vimeo) para o video que foi produzido na Argentina e tambem recolhido pela equipe de producao da Bienal.
abracos,
Cristina Ribas

Da Brigada Carioca, se soma Pedro Mendes, e em breve vamos elaborar um artigo (ou muitos) sobre isso.

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Arde San Pablo: el fantasma de la política en la Bienal

“La 29º Bienal de San Pablo está anclada en la idea de que es imposible separar el arte de la política”. A tenor de lo sucedido en las últimas 48 horas, hay serios motivos para dudar de la honestidad de esta declaración.

La obra de la Bienal de Sao Paulo que promete ser la más interesante no ha sido realizada por ningún artista, sino por la propia institución cuando ordenó cubrir unos imponentes paneles con papel de embalar, para impedir que puedan verse dos ampliaciones fotográficas: el rostro amistoso y atractivo de Dilma Rousseff frente al gesto agrio de José Serra, su opositor socialdemócrata en las elecciones a la presidencia de Brasil.

La obra propuesta por el argentino Roberto Jacoby ha consistido en socializar su espacio para que sea gestionado por una Brigada Argentina por Dilma que se dispuso a diseminar abiertamente propaganda favorable a la candidata del Partido de los Trabajadores en sucesión de Lula, apostando a ser parte del momento histórico excepcional de unidad, solidaridad, redistribución y democracia que se abre en América Latina.

De acuerdo con la —poco convincente— justificación hasta ahora emitida por la Fundación Bienal de San Pablo, un informe de la Procuraduría Electoral General habría decretado que la obra incurre en un “delito electoral” por quebrantar la Ley que impide la “vehiculación de propaganda de cualquier naturaleza” en espacios cuyo uso dependa de los poderes públicos. Sin embargo fue la propia Bienal la que concurrió a sede judicial para denunciar la obra que habían invitado.

Uno de los curadores de la Bienal, Agnaldo Farias, ha declarado a la prensa que “no podemos contestar la decisión de la justicia, porque corremos incluso el riesgo de que nos lleven presos. Si hubiésemos conocido de antemano que se trataba de Dilma, sabedores de que habría habido problemas, hubiéramos avisado al artista”. El argumento de los curadores de que habrían “sido sorprendidos” por el desarrollo de la pieza no se sostiene, ya que la misma fotografía censurada figura tanto el catálogo de la Bienal como en su sitio web.

A esta afirmación pusilánime no se puede sino responder con una pregunta: ¿qué piensa un curador de arte establecido cuando invoca la palabra “política”? Más allá de este caso puntual, no son infrecuentes las propuestas curatoriales que apelan a la relación “arte y política” para exhibir cementerios documentales o retratos de pobres o raros distantes. Esta obra política de Jacoby se opone eficazmente a esta despotenciación del arte político que ejerce actualmente el mainstream institucional.

Pero ¿qué sucede cuando un artista se toma en serio la necesidad de convertir un espacio artístico en un espacio público, para producir confrontación política —y no falso consenso— en tiempo real y en el mismo vientre del sistema del arte? El alma nunca piensa sin imagen —que así se titula la obra— consiste en algo más que la propaganda electoral favorable a Dilma: el espacio de la muestra asignado a Jacoby se transformó además en una máquina de producir antagonismo entre opiniones diversas, tomando partido e imponiendo al establishment artístico implicarse en una discusión sobre el hecho constatable de que, en un espacio geopolítico como América latina, existe hoy más experimentación, más creatividad y —en definitiva— más esperanza en el área de la política y de lo político —desde las estructuras institucionales hasta el campo de los movimientos sociales— que en el sistema del arte contemporáneo.

Jacoby participa en la Bienal por partida doble, pues integró asimismo el colectivo de artistas, sociólogos, militantes de varias ciudades que en 1968 produjo la histórica Tucumán Arde, documentada erróneamente —y se trata de un síntoma grave y elocuente— en el web de la Bienal como una obra del Grupo de Arte de Vanguardia rosarino. Ésta fue clausurada en la central obrera en Buenos Aires, bajo presiones militares durante la dictadura del general Onganía: su provocación consistía en desbordar el sistema del arte para abrazar el movimiento de protesta social en contra del sistema  vigente. A la inversa, El alma nunca piensa sin imagen parece haber sido censurada por instalar en el centro del sistema del arte una actividad a favor de un proceso extraartístico que sucede en la institución política. La Brigada Argentina por Dilma nos lo expone como algo mucho más real —porque resulta más imperfecto y complejo al fin— que la pulcritud inmaculada con que habitualmente brilla la palabra “política” en los textos curatoriales.

Buenos Aires/Sao Paulo, 23 de septiembre de 2010.

Integran la Brigada:
Adriana Minoliti, Alejandro Ros, Ana Longoni, Alina  Perkins, Cecilia Sainz, Cecilia Szalkowicz, Daniel Joglar, Fernanda Laguna, Francisco Garamona, Florencia Hipolitti, Gastón Pérsico, Paula Bugni, Hernán Paganini, Javier Barilaro, José Fernández Vega, Julia Ramírez, Kiwi Sainz, Laura Escobar, Lidia Aufgang, Lucas Rubinich, Mariano Andrade, Mariela Scafati, Mariela Bond, María Granillo, Nacho Marciano, Roberto Jacoby, Santiago Villanueva, Syd Krochmalny, Tomás Espina, Víctor Florido, Victoria Colmegna.

Adhieren:
Marcelo Expósito (Barcelona/Buenos Aires).
Gachi Hasper (Buenos Aires)
Diana Aisenberg (Buenos Aires)

Para enviar su adhesión:
elalmanuncapiensasinimagen@gmail.com.

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Video censurado, veja no vimeo
http://vimeo.com/15096614

Os Inimigos de Gil Vicente na Bienal de SP

O artista pernambucano Gil Vicente estará expondo duas séries de desenhos na próxima Bienal de Artes de São Paulo, que inaugura no dia 21/09. Uma das séries, chamada Inimigos, consiste em desenhos em grande escala, onde o artista se retrata prestes a cometer um atentado à integridade física de personalidades influentes da política mundial e do Brasil. Obviamente polêmicos, a obra é um grito contra a apatia e o conformismo com os quais assistimos as incongruências dos líderes junto ao povo que os elegeu e confiou.

Acusado de apologia ao crime, o artista e sua obra correm o risco de serem censurados pela Ordem dos Advogados do Brasil e retirados da exposição.

Uma lástima, pois tal decisão é obtusa além de hipócrita. Perde-se neste debate moralista a oportunidade de se refletir sobre a arte e toda a sua potência transformadora. Desse modo, os desenhos do artista são tratados como meras fotografias sensacionalistas de jornais populares – lidos por milhares diariamente – e que de fato falam de violência sem conteúdo crítico, apenas para fins comerciais, o que deveria ser considerado chocante mas não é mais.

Abaixo, o texto crítico de minha autoria sobre a série Inimigos, escrito para o catálogo do artista que será lançado na Bienal de São Paulo em breve.  A obra é bela e merece ser respeitada!

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Arte Fora da Ordem

“Por onde andam os subversivos?” Ao lançar esta questão na rede social onde possuo 570 amigos que mal conheço, a primeira resposta veio em seguida: – No poder. Flanando na internet, se lê que a política e o entretenimento nunca estiveram tão juntos como atualmente e que dificilmente irão se separar. “Independente da causa em questão, grande parte da comunicação política contemporânea segue a linguagem do espetáculo, como forma de guerrilha. A fórmula serve e é aplicada tanto para fins sociais relevantes como para qualquer outra coisa sem cabimento, por movimentos diversos e até por instituições como os partidos”.[1] Enquanto a tática de guerrilha vira instrumento de marketing, no Brasil indignar-se com a situação política e social está em desuso.

Indignado, porém, Gil Vicente decide ir na contramão desse padrão e repudia a linguagem do espetáculo para posicionar-se, subversivamente em forma e conteúdo, contra as estruturas da política e da cultura de massa, interligadas na contemporaneidade. Em sua ira e desilusão com o modo operacional de um sistema que considera maldito por que, como crê, apenas alimenta desigualdades e injustiças, o artista resolveu, em 2005, inventar uma persona terrorista para alvejar, com una arma gráfica, líderes arquetípicos de uma ordem mundial em crise aguda.

Ao contrário do que a primeira leitura das obras sugere, Gil se coloca, de fato, num “estado de vítima”[2] para acertar as contas com as hipocrisias, mentiras e manipulações de estadistas e representantes do Povo. No jogo que mistura realidade e ficção, o artista-vítima não panfleta ideologia partidária, nem faz julgamento moral ou religioso de qualquer ordem. Na concepção niilista de quem viu a utopia de ações movidas pelo discurso da esquerda marxista Pós-2ª Guerra, dar lugar à atual fome de destruição movida a fé, petrodólares e narcoeuros, Gil Vicente, poeta e cidadão, sugere a implosão sumária do establishment e da sua ética em situação de irrecuperável ruína.

Por sua vez, no plano da visualidade estética também pode-se creditar a Inimigos um papel de inssurgente. Seus desenhos transgridem tanto a etiqueta do politicamente correto, quanto as tendências de mercado que privilegiam ora o conforto de discursos minimalistas acríticos, ora a literalidade fácil de obras que repaginam ad nauseum o Pop  e outros estilos, modernos ou pós.

Estes desenhos, no entanto, possuem o traço e a narrativa de impacto dos quadrinhos policiais transmitindo, em cada um deles, a tensão contida na cena imediatamente anterior ao grande desfecho da estória. Porém, por serem diretos e literais, por que narrativos, a sofisticação de Gil Vicente se mostra justamente na dispensa do uso de metáforas, ainda que utilize amplamente o recurso da representação.

O grande paradoxo desta série porém, está no fato de que, ao levar tais desenhos a público, o artista exerce todo o Poder que o status quo lhe confere. Gil Vicente aproveita-se da posição privilegiada de profissional inserido num circuito intelectual respeitável, para trocar o estado de Vítima na ficção do desenho por um estado de Representante social na vida real. Sem desfaçatez e atento, ele se utiliza abertamente do sistema – também político – da instituição de arte, para fazer sua obra circular semi protegida de possíveis censuras e ataques das esferas poderosas.

Longe de culpas, Gil Vicente é um ateu em busca da fé na consciência política transformadora, hoje apaziguada pela midiatização da cultura e pulverizada em centenas de coletividades ativistas as quais, pela pluralidade de motivações e modos de atuação, nem sempre conseguem tecer uma alternativa efetiva contra o sistema de poder, cada vez mais controlador e onipresente.

Em Inimigos, o artista dá um tiro de advertência para o alto, como um guerrilheiro que se move na possibilidade de fazer terrorismo sem sangue, através da imagem e da poesia. Representando-se na execução de um ato limite, ele urra contra Estados ignóbeis e acorda para a luta os jovens e adultos anestesiados pelo consumismo e pelo prazer imediato. Assim, os desenhos de Gil Vicente advertem que a arma mais subversiva existente, mesmo com todos os sustos e espetáculos, consumos e tecnologias, é a capacidade de reflexão e de gerar sonhos. E que diante do menor risco dessa capacidade ser tolhida deve-se pressionar, sem hesitar, o botão  Indignar-se.

Daniela Labra


[1] FRANZ, Tiago. In: http://perspectivapolitica.com.br/tag/ativismo-politico/ acessado em 15/07/2010

[2] FARIAS, Walquíria. “O Energúmeno”. Texto de catálogo. 2005

Programa de Residência LABMIS

O Programa de Residência LABMIS tem por objetivo as ações de fomento aos processos artísticos voltados às linguagens contemporâneas que vêm sendo desenvolvidas de forma plena em várias instituições internacionais.

Hoje elas constituem uma tendência salutar que pode fazer frente às possíveis distorções que a cultura sofre no mundo globalizado. A duração do programa de residência é de três meses.

As inscrições para a nova edição do projeto serão recebidas no MIS entre 01 de setembro a 24 de outubro de 2010. O edital e a ficha de inscrição estão disponíveis para download no site:

http://www.mis-sp.org.br/labmis/selecaoeeditais

Política Cultural e Eleições

Do site Cultura e Mercado, de Leonardo Brant, recebi uns apontamentos que julgo importantes para estimular o debate e o pensamento acerca do futuro das políticas culturais no Brasil.

Porém, aproveito para lançar a provocação: Se em escala federal as políticas culturais se desenvolveram bem nos últimos anos, graças a ministros que pertenceram ao PV, no nível municipal o setor ainda não é levado à sério. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, grande capital e vitrine turística deste país, os centros de arte administrados pela Prefeitura tem um orçamento hilário de tão parco.

Na era em que a cultura é entendida como investimento, oportunidade de negócio e geração de renda, a classe artística desta e de muitas outras cidades brasileiras ficam mortificadas com a atenção dada aos viradões espetaculares e comícios culturais, enquanto que os equipamentos culturais já existentes só recebem esmolas. Não faz sentido.

Mas vamos ao debate sobre as plataformas de governo, no Cultura e Mercado:

Dilema do descaso: os candidatos não têm propostas para a cultura por que as pesquisas não apontam cultura como prioridade? Ou as pesquisas não revelam cultura como prioridade por que a mídia não cobre o assunto? Começou a corrida eleitoral e, para variar, a política cultural continua em segundo plano.

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