Teresa Margolles em Recife

 DSC01010A Fundação Joaquim Nabuco em Recife exibe até 8 de março a exposição “Enquanto For Necessário”, primeira individual da mexicana Teresa Margolles no Brasil, sob curadoria de Moacir dos Anjos. Conhecida internacionalmente por discutir de modo contundente a violência urbana que vitima milhares de pessoas em seu país, Margolles exibe alguns trabalhos antigos, além do resultado de um projeto novo envolvendo bordadeiras da comunidade recifense de Alto José do Pinho.

Formada em arte e em medicina forense, a artista se dedica desde os anos 1990 a um trabalho artístico que denuncia o escabroso cenário de homicídios em massa causados pelo narcotráfico no México. Tendo como ponto de partida cenas e relatos de crimes e eventos violentos ocorridos em lugares como Ciudad Juárez, na fronteira com os E.U.A., ou Culiacán, onde nasceu, Teresa cria narrativas fascinantes e dolorosas ancoradas numa realidade muito dura. Embora ela exponha situações ocorridas em cidades mexicanas, o trágico panorama que aborda se extende por muitos centros e periferias latinoamericanos marcados pela desigualdade social, corrupção endêmica e a ação criminosa de milícias de todo tipo, tal como se vê no Recife e no próprio Rio de Janeiro. Como aponta Moacir dos Anjos, o trabalho desta artista cada vez mais alcança lugares afastados do México mas que partilham com esse país a necessidade de tornar visível e lidar com a violência que atinge populações desguarnecidas dos direitos mínimos assegurados. E o direito à vida é um deles.

A exposição traz obras como PM (2012),exibida na 7a Bienal de Berlim em uma versão diferente da que se vê aqui. No Recife, o trabalho se apresenta como uma projeção sequencial de capas do jornal popular de mesmo nome colecionadas pela artista ao longo de um ano em Ciudad Juárez, uma das cidades mais violentas do mundo. Cada imagem projetada mostra as primeiras páginas do tablóide ilustradas por fotos de cadáveres, quase sempre ao lado de fotografias de mulheres sensuais e anúncios de prostituição. O ritmo quase monótono dos slides evidenciam a escandalosa desvalorização da vida no cotidiano dessa e tantas outras cidades, enquanto também explicita a operação do jornal de aproximar em seu espaço privilegiado “corpos radicalmente regulados pela morte e outros regidos pela satisfação prometida pelo sexo pago”, nas palavras do curador. Além de PM, completam a mostra Trepanações (sons do necrotério), 2003, trabalho sonoro que reproduz o ruído de uma serra cortando a cabeça de uma vítima de assassinato durante a autópsia; Esta propriedade não será demolida, 2009-2013, que apresenta fotografias de propriedades à venda ou abandonadas em função da insegurança em Ciudad Juárez; a videoinstalação Como Saímos?, 2010, que exibe um vídeo feito do interior de um carro de passeio, onde crianças pobres são filmadas, do lado de fora, perguntando aos passageiros do veículo onde há uma saída. Por último, é apresentado o resultado do trabalho realizado em conjunto com as mulheres bordadeiras da comunidade do Alto José do Pinho. Este projeto integra uma série de ações que a artista desenvolve em localidades diversas com bordadeiras convidadas a trabalhar sobre tecidos previamente embebidos em sangue ou fluidos de uma pessoa assassinada. Enquanto as mulheres conversam sobre medos e o risco que rodam suas vidas, vão surgindo imagens bordadas que remetem à sua realidade insegura e a relatos da violência testemunhada, junto a projeções de um futuro melhor que talvez chegue um dia.

No Brasil, Berna Reale, Armando Queiróz e Clara Ianni são dos poucos artistas que tocam em temas trágicos e sujam de leve o tapete vermelho do sistema artístico. Como Teresa Margolles, suas obras mostram que a arte contemporânea ainda pode fazer crítica social séria apesar da tola aura de glamour que a prende em armadilhas fúteis alheias aos conflitos do mundo real.

Versão em PDF : Preview of “Infoglobo – O Globo – 16 fev 2015 – Page #26” copy

Artist Residency Grant 2015 – Le CouveNt

Divulgando a pedidos (este não é um blog de promoção de evntos, ok?):

Artist Residency Grant 2015 – Le CouveNt
Description
Le CouveNt is pleased to announce a call for applications for the 2015 Grant Program.
The “le CouveNt Grant for Artists” encourages the mobility of young artists as well as the expression of cultural diversity. The grant is aimed to worldwide emerging artists, from all disciplines

Application Instructions
To be eligible, applicants must first register on this web address:
http://www.lecouventauzits.com/en/2015-grant-program
They will receive instructions by email, as well as the application form and a complete description of the program.

Le CouveNt
Le Château – 12390 – Auzits – France
info@lecouventauzits.com
http://www.lecouventauzits.com

Jonathas de Andrade no MAR, Rio de Janeiro

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O Museu do Homem do Nordeste foi criado no Recife em 1979 a partir da junção dos acervos do Museu do Açúcar, do Museu de Antropologia e do Museu de Arte Popular de Permambuco. Sua concepção museológica inspira-se no conceito de museu regional do sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, e seu acervo possui documentos das formas de arquitetura local e objetos que representam as manifestações socio-culturais populares do Nordeste, como a cerâmica, o carnaval e os cultos religiosos sincréticos.

Apropriando-se do nome e da proposta da instituição pernambucana, Jonathas de Andrade, alagoano radicado no Recife, ocupa o primeiro andar do MAR até 22 de março, com uma versão particular, atualizada e política do Museu do Homem do Nordeste. A exposição reúne 18 obras suas e 74 peças da coleção Fundação Joaquim Nabuco (dos acervos do Centro de Estudos da História Brasileira e do Museu do Homem do Nordeste), da Fundação Gilberto Freyre e do Instituto Lula Cardoso Ayres.

O resultado é um conjunto narrativo composto por instalações, vídeos, fotografias, pinturas, objetos e documentos que tensionam estereótipos e ideias pré-concebidas vinculadas à região. O Museu do Homem do Nordeste no MAR possui metodologia de investigação e catalogação de dados própria, que ganha corpo na sala do museu, sendo ela mesma uma proposta museográfica diferente, que informa uma ampla pesquisa sobre contradições e perversidades históricas brasileiras, discutida desde um ponto de vista nordestino, artístico e contemporâneo.

O Museu do Homem do Nordeste é composto por trabalhos com processos longos, tal como Levante, filme que dá visibilidade ao problema dos carroceiros na capital pernambucana: Trabalhadores socialmente invisíveis, que ganham a vida fazendo fretes em carroças de cavalos há décadas, e vêm sendo banidos das vias públicas de Recife pela especulação imobiliária e os veículos motorizados, ficando sem alternativa de sustento. Procurando dar voz à situação, o artista promoveu com os carroceiros a 1a Corrida de Carroças no Centro da Cidade do Recife, um protesto barulhento e celebratório, sob o pretexto de ser o roteiro de Levante. Tal estratégia permitiu a Andrade desenrolar toda a burocracia pública para as devidas autorizações da filmagem e, consequentemente, do protesto.

Enquanto o filme explora esteticamente a ambiguidade típica de obras artísticas que lidam com a realidade, a documentação da Corrida é exposta com notícias da imprensa, declarações e registros do cotidiano dos carroceiros, dando a dimensão desse mundo próximo do qual constrange falar. Quando Jonathas produzia Levante, entre 2012 e 2013, o país viveu as Jornadas de Junho e viu a violenta repressão do Estado. Assim, relatos de acontecimentos dessa época se somam à documentação da Corrida, formando um panorama tenso das recentes convulsões sociais brasileiras.

Os trabalhos da mostra usam táticas de ação distintas. Nos Cartazes do Museu do Homem do Nordeste, o artista publicou anúncios em classificados de um jornal popular do Recife, convocando homens trabalhadores com qualidades como: morenos, mãos fortes, boa índole, entre 30-50 anos, descendentes de escravos, feios ou bonitos, para posarem para arquivo fotográfico. Os interessados deveriam posar do modo como se imaginavam representando a região, e então formariam o catálogo de modelos másculos pouco ortodoxos dos cartazes do Museu. Além destas peças, a obra se completa com seis cadernos de anotações do artista sobre o processo de encontro e realização da foto com o trabalhador, revelando como são compreendidos e reproduzidos estereótipos de masculinidade e erotismo.

O Museu do Homem do Nordeste é um projeto fascinante na sua virulenta discussão cultural, apresentando de modo algo desconfortável crueza material, histórica, e sensualidade bruta. Suas questões atravessam a arte, a casa e a rua, conseguindo ocupar a instituição de forma inteligente e crítica, desconstruindo mitos de um Brasil pós-moderno que finge ignorar a herança escravocrata que ainda paira em 2015.

*Publicado em Jornal O Globo, Segundo Caderno, 6-01-2015

Abrindo 2015 com Acid House Old School

Começamos o ano com um trabalho da artista espanhola Irene de Andrés, nascida em Ibiza.É uma instalação sobre comportamento, memória e ruínas da contemporaneidade que usa como objeto os escombros de um complexo de lazer noturno em Ibiza, abandonado nos anos 1970, que foi cenário de muitas raves clandestinas nos anos 80-90. Este é o projeto Festival Club, que consiste em uma videoinstalação junto a fotografías do Festival Club e documentação da imprensa da época sobre a cena noturna e o fechamento da casa. O filme tem a participação do DJ Alfredo Fiorito, um dos protagonistas da cena da ilha na décda de oitenta. O áudio foi gravado diretamente do local.
A obra foi contemplada como prêmio espanhol Generaciones 2013.

[vimeo width=”360″ height=”300″]http://vimeo.com/83246622[/vimeo]

Para acompanhar a obra de Irene, posto um link com um relato e fotos históricas do primeiro club massivo de Acid House de Londres, o Spectrum, que pulou de um público de 124 pessoas, na sua primeira noite de clubbing, para 2500 em apenas 5 semanas. Isso em 1988.  Hoje o house e o mundo das inovações e descobertas estéticas segue seu fluxo se alimentando do passado e reinventando uma idéia de futuro…

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Fotografia: Chris Abbot

E encerrando o pacote, segue um set de Balearic House + Acid, ao vivo do Club Spectrum, em 1988.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=HYTWHPlN3u8[/youtube]

Estória da estética contemporânea.

Blog do projeto Travessias

A exposição Travessias – Arte Contemporânea na Maré, em seu terceiro ano de atividades, consolidou-se como um projeto de reflexão e discussão sobre a arte contemporânea e as transformações do espaço urbano na atualidade. Travessias 3 – Arte Contemporânea na Maré fica aberta ao público até o dia 16 de novembro no Galpão Bela Maré, localizado na Favela Nova Holanda, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Com organização do artista plástico carioca Daniel Senise, a Travessias 3 reúne trabalhos inéditos e de acervo dos artistas Barrão, Dora Longo Bahia, Sandra Kogut, Mauro Restiffe, Jonathas de Andrade, Cao Guimarães, Luiz Zerbini e dos fotógrafos do Imagens do Povo, programa realizado pelo Observatório de Favelas.“ Partimos do nome do projeto, Travessias, que sugere integração, para convidar artistas cujas obras têm a possibilidade de criar relações com o local onde serão expostas.

Desde sua primeira edição o Travessias vem experimentando e aprimorando metodologias de aproximação e comunicação pelas artes visuais, em formatos de exposições diferentes uns dos outros. A sua proposta é única no panorama da arte do Brasil, sendo um laboratório estético, afetivo e sensorial aberto ao público mais diverso. Travessias acontece em uma zona de exclusão social e extrema violência urbana, e sua meta fundamental é construir olhares sensíveis e saberes múltiplos através de inciativas artísticas contemporâneas.

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Visão geral da exposição com projeção do núcleo de fotógrafos da Maré, Imagens do Povo. Imagem: Eduardo Magalhâes.

http://2014.travessias.org.br/blog/

Ricardo Basbaum/ nbp-etc: escolher linhas de repetição

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A Casa de Cultura Laura Alvim recebe, sob a curadoria de Glória Ferreira, a individual de Ricardo Basbaum, um dos artistas contemporâneos brasileiros mais interessantes em atividade desde os anos 1980. Paulista, mudou-se adolescente para o Rio em 1977. Aqui começa a desenvolver sua obra experimental e multimídia fundamentada em discurso conceitual e crítico, em um percurso bastante independente do mercado de arte sem, contudo, estar a sua margem. Formado em biologia, estudou música e atua também como curador, teórico, educador, escritor, performer, etc. Sua prática interdisciplinar dialoga com artistas e etapas da história da arte no Brasil, como Lygia Clark, Hélio Oiticica e o Neoconcretismo, e se coloca como dispositivo que articula experiência sensorial, sociabilidade e linguagem. Embora seja um nome de destaque na cena artística internacional, sua pesquisa não está voltada para a lógica de produção e comercialização de objetos que, segundo ele, faz do artista um “funcionário do galerista”. Sua prática é comprometida mais com proposições participativas que envolvam o público do que com obras para serem consumidas.

A exposição reúne trabalhos novos ou inéditos no Rio de Janeiro, em um conjunto absolutamente coerente, resultante de processos de pesquisa iniciados no final dos anos 80. Na entrada o visitante se depara com um gradil e deve atravessar uma espécie de portal cujo formato é explorado há quase 20 anos no projeto NBP – Novas Bases para a Personalidade. Versos como: “canções de amor/exercício de memória/ forma específica” recebem o público e o conduzem ao salão que exibe diagramas rizomáticos cuja forma lembra corpos amebóides ocupados por muita vida e informação.

Aparentemente a mostra é hermética, mas o visitante deve relaxar e se dar um tempo para analisar cada diagrama que reúne dados e expressões estruturantes do pensamento e prática de Basbaum: “bioconceitualismo”, “conceitualismo sensorial”, “geleia adversa”, “culto ao hábito bólide” são algumas idéias estampadas nas paredes junto a dados históricos, fonemas, símbolos gráficos. No jardim de inverno com vista para a praia, esculturas-sofás são instaladas com fones que emitem a versão sonora de um outro diagrama onde, entre outras coisas, se lê o termo “suprasensorialsonemas” – o qual sugere uma definição para essa obra imersiva-musical.

A exposição tem uma seleção de vídeos que registram mais de uma década de experiências do projeto-processo “eu-você: coreografias, jogos e exercícios”, onde pessoas com uniformes, divididas nos grupos EU e VOCÊ, realizam ações coletivas coordenadas pelo artista. Alguns vídeos são divertidos, como o registro de uma ação feita em um programa de TV em 2003 no Rio Grande do Sul, e outra realizada em Shangai. Ainda que a experiência na galeria seja tranquila e silenciosa, na noite de abertura os cantores Lucila Tragtenberg e Licio Bruno realizaram experimentos de livre vocalização de textos, transmutando em ato e som a dinâmica de pensamento e trabalho do artista.

Para Ricardo Basbaum a obra de arte está enfraquecida do seu potencial transformador. Por isso sua prática incita a reflexão, a ação e a experiência estética como coisa mental e sensorial ao mesmo tempo, em propostas de difícil definição formal. Esta mostra é parada obrigatória para os que se interessam por pesquisas artísticas não-objetuais e todo o seu universo estético, histórico e intelectual. A obra-pensamento de Basbaum possui uma complexidade que não cabe neste espaço de jornal pois ela é êxtase e exercício artístico não-linear sem obviedades. Quem for à exposição (vi)verá.

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Fotos: Mario Grisollis

*Publicado em O Globo, Segundo Caderno, Outubro de 2014.

Links para apreciar Ricardo Basbaum:
http://bienal.org.br/post.php?i=551
http://www.scielo.br/img/revistas/ars/v6n11/08img02.jpg
http://www.nbp.pro.br/

Artista como Bandeirante, de Maria Thereza Alves

Vídeo de Maria Thereza Alves, artista paulista residente na Europa, criado para a exposição “Feito por Brasileiros”:

“O vídeo, Artista como Bandeirante, é uma resposta ao ensaio de Alexandre Allard, Novos Bandeirantes, publicado no catálogo na ocasião da exposição Feito por Brasileiros no Hospital Matarazzo en São Paulo, em que participo com o trabalho, “Eu e os Matarazzos” ”.
Maria Thereza Alves

Daniel Escobar: A Nova Promessa

Exposição individual de Daniel Escobar na Galeria Zipper, de 3_9 a 5_10_2014, São Paulo.

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A casa própria, o carro novo, a roupa cara, a obra de arte exclusiva. Quanto tempo leva para seu sonho material se tornar ruína? Em A Nova Promessa, Daniel Escobar aborda artimanhas ilusionistas da publicidade para apresentá-las como um dos motores do acelerado movimento de consumo e descarte que sustenta – e devora – o mundo atual. Esta individual comenta o lado patético da nossa condição humana resumida a consumidores na era pós-fordista, e traz no título também uma ironia ao próprio sistema da arte contemporânea, o qual tornou-se uma máquina provedora de objetos de alto apelo estético e baixa densidade discursiva, desejosa de jovens talentos.

A Nova Promessa remonta na fachada da Zipper a obra Anuncie Aqui, apresentada primeiramente no interior do Santander Cultural, em Porto Alegre, como um verdadeiro espaço de propaganda para aluguel. Desta vez, a operação comercial não ocorre e o outdoor surge como uma intervenção na arquitetura e no meio urbano. Porém, mesmo que desprovido de sua função primordial e legitimado como obra artística, essa peça se coloca como uma excessão no espaço público paulistano, onde está proibido por decreto instalar tal tipo de suporte. Exposta na rua, a placa se auto anuncia enquanto afirma a natureza da galeria e desvenda estratégias artísticas para re-inventar códigos éticos e criar mecanismos de privilégios pela arte.

Daniel Escobar equilibra visualidade pop com conceitos elaborados. Realizando trabalhos bem acabados e esteticamente agradáveis, ele seduz o espectador pela forma para logo inserí-lo no universo crítico do seu discurso, situado muito além da simples aparência.

Daniela Labra

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The New Promise

Home ownership, the brand new car, expensive clothes, a unique work of art – how long does your material dream last before it becomes ruins? In The New Promise, Daniel Escobar discusses the illusionistic tricks of advertising, presenting them as one of the drivers of the fast paced consumption and disposal trend, which sustains – and devours – the current world. This individual exhibit comments on the pathetic side of our human condition reduced to consumers in the post-Fordism era, and its title carries an irony to the very system of contemporary art, which has become a mass provider of objects of high plastic appeal and low discursive density, craving young talents.

The New Promise reassembles on the exterior facade of Zipper Gallery the work Advertise Here, which was first presented inside Santander Cultural in Porto Alegre, as actual rental ad space. This time around the commercial transaction is not completed, and the billboard emerges as an intervention in the architecture and in the urban environment. However, despite being devoid of its primary function and being legitimized as artistic work, it stands as an exception in the public space of the city of São Paulo, where public outdoor ads have long been banned by law. Exposed in the street, the sign advertises itself while asserting the nature of the Gallery, and unravels artistic strategies to re-invent ethical codes and to create privilege mechanisms through art.

Daniel Escobar balances pop visuality with elaborate concepts. Creating well finished and aesthetically pleasing works of art, the artist allures viewers through form, to soon after insert them in the critical universe of his speech, located far beyond simple appearance.

Daniela Labra

Arte, mercado e estratégias cínicas

Arte, mercado e estratégias cínicas*
*publicado em O Globo, 14/07/2014.

Banksy sells original work for just $60 in Central Park – video
Intervenção de Banky em Nova York: Banca de rua com venda de originais.

Há pouco inaugurei, como curadora, uma mostra do artista gaúcho Daniel Escobar. Seu projeto estudou jogadas de marketing de lançamentos imobiliários para discutir a manipulação dos desejos pela publicidade. Dentre as peças expostas, um outdoor em escala natural (9m x 3m) foi colocado como espaço de aluguel para anúncios comuns, mediante a assinatura de um contrato e pagamento da locação ao artista. A placa está instalada no mezanino da instituição realizadora, o Santander Cultural de Porto Alegre, que também recebe uma popular mostra de Vik Muniz curada por Ligia Canongia.

A exposição de Daniel me fez pensar em outros projetos artísticos que transbordam o circuito da arte para funcionarem como operações reais de negócios. Tais práticas, surgem como crítica a padrões de legitimação e circulação da arte nos anos 1960. Entre 1961-62 Claes Oldenburg realizou a série The Store (A Loja), onde questionava a arte como coisa preciosa confinada em museus. Após exibir em uma galeria de Nova York trabalhos inspirados em produtos de delicatessens e lojas de roupas, ele abriu uma loja de rua e abarrotou-a com mais de cem objetos para a venda, de bibelôs baratos a obras de arte suas. Depois de meses, Oldenburg fechou o estabelecimento e fez ali o Ray Gun Theater, um espaço para performances, que então simbolizavam experimentalismo e resistência ao mercado.

Continua…