Arte, mercado e estratégias cÃnicas*
*publicado em O Globo, 14/07/2014.
Intervenção de Banky em Nova York: Banca de rua com venda de originais.
Há pouco inaugurei, como curadora, uma mostra do artista gaúcho Daniel Escobar. Seu projeto estudou jogadas de marketing de lançamentos imobiliários para discutir a manipulação dos desejos pela publicidade. Dentre as peças expostas, um outdoor em escala natural (9m x 3m) foi colocado como espaço de aluguel para anúncios comuns, mediante a assinatura de um contrato e pagamento da locação ao artista. A placa está instalada no mezanino da instituição realizadora, o Santander Cultural de Porto Alegre, que também recebe uma popular mostra de Vik Muniz curada por Ligia Canongia.
A exposição de Daniel me fez pensar em outros projetos artÃsticos que transbordam o circuito da arte para funcionarem como operações reais de negócios. Tais práticas, surgem como crÃtica a padrões de legitimação e circulação da arte nos anos 1960. Entre 1961-62 Claes Oldenburg realizou a série The Store (A Loja), onde questionava a arte como coisa preciosa confinada em museus. Após exibir em uma galeria de Nova York trabalhos inspirados em produtos de delicatessens e lojas de roupas, ele abriu uma loja de rua e abarrotou-a com mais de cem objetos para a venda, de bibelôs baratos a obras de arte suas. Depois de meses, Oldenburg fechou o estabelecimento e fez ali o Ray Gun Theater, um espaço para performances, que então simbolizavam experimentalismo e resistência ao mercado.