Mike Kelley foi um artista importante de sua geração, tendo começado a despontar nos Estados Unidos no final da década de 1970. Sua obra surpreendia com uma simplicidade e “tosquidão” que, caso fosse brasileiro, imediatamente o fariam ser identificado, por aqui, com uma certa tradição precária, relacionada à própria precariedade do nosso meio social. Mas Kelley era de Michigan, Estados Unidos, paÃs que não quer saber do precário. Em sua trajetória, acompanhou o movimento punk e a decadência e re-ascendência de Nova York com seus armazéns abandonados, crimes e pixadores vandalizando tudo. Kelley foi da geração pré MTV que viu o Pop retornar com força nas artes, aclamado por um mercado que engoradava e crescia, especialmente em seu paÃs. Kelley parecia cagar e andar. Mas estava em todas, parecendo dar de ombros para a maioria. Suas obras, que podiam ser bonecos estofados, tapeçarias de crochê, esculturas de panos, fibra de vidro, vÃdeos de narrativas não-lineares, entre muitas outras coisas, eram feias, amorais, amorfas, politicamente de saco cheio, entediantes, bizarras até. Mas, por tudo isso, eram intrigantes demais, pois pareciam também ser um escárnio da própria cultura de massa, do consumo, da mÃdia que esconde a feiúra do mundo quando aquilo não reverte em audiência. Suas obras eram crÃticas na forma, e não eram panfletárias tentativas de rebeldia. Longe disso. Pois Mike Kelley, no seu aparentemente desestruturado armamento artÃstico, era denso e lúcido.
Mike Kelley
Ah. . . . Youth!
1991