Fernanda Magalhães. ¨A Natureza da Vida – Bosque Central Londrina, Madona¨, 2011 (fotografia)
Performance: modos de estar e transformar*
Em 1989, o diretor teatral Renato Cohen (1956-2003), lançava o pioneiro livro ¨A Performance como Linguagem¨, onde investigava elementos performáticos nas artes, desde a perspectiva do teatro experimental. Ele comentava sobre arte conceitual, o punk, body art, happenings, xamanismo, psicologia, antropologia e semiótica, dando dimensão das diversas referências e complexidade da linguagem performática. Sua abordagem seguia o pensamento do também diretor e teórico estadounidense Richard Schechner, que já nos anos 1970 discutia o ato de ¨performar¨ como sendo algo inerente ao ser humano em convÃvio social. Assim, ele apontava que uma cerimônia de candomblé, um batismo, uma manifestação, um ritual marajoara, um reality show, um jogo, tudo é ou contém performance.
Como linguagem na arte, a performance tem portanto a matéria prima nos ¨modos de agir¨ do homem em sociedade: dos atos solenes aos mais banais, como escovar os dentes, tudo possui potencial estético e narrativo. A performance procura iluminar gestos naturalizados pela rotina, para que sejam ressignificados e alcancem uma dimensão poética e crÃtica, dentro e fora dos espaços convencionais da arte. Ela se apresenta como ações que tentam se aproximar ao máximo do mundo ¨real¨. Um exemplo seria alguém fritando um ovo em um fogareiro no meio do museu ou na calçada: algo que dependendo da intenção e do contexto, pode ser arte ou não. A performance é a arte da fricção com a vida e, em qualquer à rea que se coloque, instiga pelo seu hibridismo e polissemia, sendo uma via para questionar disciplinas engessadas, desconstruindo estruturas e padrões estabelecidos.
* texto publicado em Jornal O Globo, Segundo Caderno, 4/11/2013 sob o tÃtulo de ¨Luz nas Trevas¨